O 25 de Abril em poucas palavras
Era uma vez um país onde as pessoas não tinham liberdade e onde reinava a proibição. A resposta para quase tudo o que o povo queria era, invariavelmente, um "não". Os habitantes não podiam escolher qual o partido que queriam que os governasse, porque não havia eleições livres; não podiam criticar o sistema em que viviam, porque corriam o risco de ir parar à prisão.

"Escolher ou Questionar" eram verbos que não estavam ao dispor da população. Se fossem do sexo masculino, os jovens eram obrigados a ir para a tropa e a partir para a guerra num continente distante, onde muitos acabavam por morrer ou ficar feridos.
Se já existisse, a Internet seria proibida.
Às mulheres estava reservado um papel secundário na sociedade. Se quisessem sair do País, por exemplo, tinham de ter uma autorização escrita do marido. Para votar, ao contrário dos homens, não lhes bastava ter 18 anos -tinham de ter o ensino secundário completo (algo raro, porque na altura só era obrigatório estudar até ao quarto ano).
Se já existisse, a internet seria proibida. Tudo o que as pessoas liam, viam ou ouviam era controlado pela censura. A população só tinha acesso aos conteúdos que o Governo queria, para impedir que surgissem ideias de mudança. Reforma, pensões por doença ou invalidez, subsídios de férias e Natal - conceitos que são hoje comuns no nosso dia a dia -faziam parte de um sonho bom. Tal como um rendimento mínimo para as pessoas que não tivessem trabalho ou um sistema de saúde acessível a todos os cidadãos.
25 de Abril de 1974. De madrugada, militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) ocuparam os estúdios do Rádio Clube Português e, através da rádio, explicaram à população que pretendiam que o País fosse de novo uma democracia, com eleições e liberdades de toda a ordem. Inclusive, foram postas no ar músicas de que a ditadura não gostava, como Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso.

Ao mesmo tempo, uma coluna militar com tanques, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e marchou para Lisboa. Na capital, tomou posições junto dos ministérios e depois cercou o quartel da GNR do Carmo, onde se tinha refugiado Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar à frente da ditadura.
Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares. E o que era um golpe de Estado transformou-se numa revolução. A certa altura, uma vendedora de flores começou a distribuir cravos. Os soldados enfiaram o cravo no cano da espingarda e os civis puseram a flor ao peito. Por isso, hoje em dia lhe chamamos Revolução dos Cravos. Foram dados alguns tiros para o ar, mas ninguém morreu nem foi ferido: foi uma revolução pacífica, como nunca existiu na história. No 25 de Abril, o vermelho que ficou para a História não foi de sangue. Foi o vermelho dos cravos.

Ao fim da tarde, Marcelo Caetano (o último Presidente do Estado Novo) rendeu-se e entregou o poder ao general Spínola, que, embora não pertencesse ao MFA, não pensava da mesma maneira que o governo acerca das colónias. Um ano depois, a 25 de Abril de 1975, os portugueses votaram pela primeira vez em liberdade.
'Grândola'
O tema de José Afonso nunca caiu no esquecimento, desde que se tornou, tal como os cravos, num símbolo do 25 de Abril. Agora, porém, tem-se ouvido com mais frequência do que é habitual. Já ouviu falar que "a cantiga é uma arma"? Pois bem, as pessoas que têm cantado o tema quer nas manifestações quer em aparições públicas de alguns governantes, estão a usar a música como forma de protesto contra o atual Governo. Ao cantarem a Grândola, recordam aos governantes os valores que foram conquistados.