Por Aqui por Ali - Por Valter Santos

27-04-2020

A morte do rei D. Pedro V a Música e eu

D. Pedro V
D. Pedro V

No dia 11 de Novembro de 1861, faleceu D. Pedro V (1837-1861) um jovem rei muito querido dos portugueses, tanto assim o era, que a população do Porto lhe manifestou sua afeição e mágoa pela sua morte.
As exequias mandadas rezar no dia 14 de Janeiro de 1862, no Convento de S. Bento da Victória (datado de 1598) foram de tal imponência, que mereceram espaço destacado no Jornal do Porto, que tivemos oportunidade de ler e o que nos chamou mais a atenção foi a exaustiva narrativa do cerimonial musical que esteve a cargo da Sociedade Filarmónica Portuense (fundada em 1840).
Somos desde há muito, interessado pela história das bandas filarmónicas da região e como tal essa notícia detalhada prendeu a nossa atenção, a tal ponto de trazer parte dela aos nossos amigos (em especial os musicólogos) já que temos tantos entre os nossos leitores.
Antes de partir para o histórico artigo, recordo-vos que participei na edição dos livros monográficos sobre a história da fundação da Banda de Música de S. João de Madeira (fundada em 1863), livro editado em 2013, e da Banda de Música de Angeja (fundada em 1867) e editado em 2017 e muitos artigos escrevi como jornalista, sobre as Bandas de Música existentes nos concelhos banhados pelo rio Caima e vivendo na Vila do Couto de Cucujães, conheço bem a história da Banda desta populosa freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis e que teve a sua primitiva fundação em 1892.
Mas sem mais delongas, vamos ao tal artigo, que motivou este apontamento, onde a história se realça.

 Mosteiro de S. Bento; Teresa Cruz, autora com Valter Santos; Banda de Cucujães
Mosteiro de S. Bento; Teresa Cruz, autora com Valter Santos; Banda de Cucujães


IN: O Jornal do Porto, de 15-1-1862 (grafia da época)
EXEQUIAS
A Sociedade Phylarmonica Portuense celebrou hontem, na igreja de S. Bento da Victoria, com a cooperação dos amadores de muzica vocal e instrumental, e dos professores desta cidade, umas solemnes exéquias pela alma de S. M. el-rei D. Pedro V - o muito amado.
Nunca o Porto assistiu a uma solemnidade tão magestoza e imponente, tributo de saudade, que uma sociedade inteira prestava ao rei d'uma nação pequena sim, mas invejamos de toda a Europa!
Eram as preces vociadas de pranto, que se endereçavam a Deus a pedir-lhe a bem aventurança para um rei, que durante a sua curta existência, incitara os súbditos à pratica de todas as virtudes.
A direcção da sociedade phylarmonica obrou acertadamente, nomeando uma comissão de entre os seus sócios para dirigirem o adorno interior do templo. Os snrs. Pinto da Costa e H. Lambertini, coadjuvados pelos snrs. Pedro d'Oliveira e Augusto Moreira, foram os escolhidos para esta delicada missão.
Dentro do espaçoso templo não havia mais que o luto da igreja portugueza pelo falecimento do seu rei, e apenas se viam sobre os crepes alguns bem escolhidos textos da Bíblia, que recordavam as virtudes do snr. D. Pedro V. Afora isso, tudo o mais estava literalmente coberto de preto. (Segue uma longa descrição da decoração do interior da igreja... depois passa-se a narrar a função musical).
Foi executada a missa do maestro Cherobini, composição d'um merecimento admirável, com um Libera me Domine, escrito de propósito pelo maestro Agostini para aquella solenidade, que faria a reputação do distinto escriptor se já não tivesse um nome tão conhecido no mundo musical.
A missa é toda em côros e d'uma instrumentação condigna ao assunto. (Segue a descrição do efeito instrumental)... A execução da missa Libera me foi bella e bem dirigida pelos maestros Dubini, Agostini, Soller e Ribas.
Eram 100 cantores, sendo 46 sopranos, 21 tenores e 33 baixos (os nomes veem referidos e destacamos alguns, cujos apelidos são comuns aqui na região do Caima: Bertha Soares Peixoto d'Albergaria; Ermelinda Pinto Leite; Ignez Pinto Leite; Orizia Pinto Leite; Judith Ribas; Leopoldina A. da Silva Maia; Tomásia Soares d'Albergaria - Cantoras: REGENTE DA ORQUESTRA - Nicolau Medinas Ribas; Augusto Marques Pinto; Romão Gil Ribas; José António Ribas; Hipólito Medina Ribas; Carlos Brandão; António Gomes da Cruz

Assinaturas dos fundadores em 1892 desta então Sociedade Filarmónica Cucujanense
Assinaturas dos fundadores em 1892 desta então Sociedade Filarmónica Cucujanense
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